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Mostrando postagens de maio, 2025

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 18 (Final)- O Legado de um Herói, o legado de Manassés.

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  Capítulo XVIII: O Legado para Dois Mundos          Rio de Janeiro, Império do Brasil, 1888. O sol brilhava sobre a capital do Império, mas nenhum raio era tão luminoso quanto a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio, que abolia a escravidão no Brasil. Na pequena  Ilha de Paquetá, Pedro Mendonça, agora com 59 anos, e Elias Sobrinho, com 58, abraçavam-se com lágrimas nos olhos, o jovem Elias Neto, de 21 anos, entre eles. Pedro, com orgulho, usava o rosário de Rodolfo, beijando a cruz e pensando em seu pai, Manassés, o portador mais longevo da maior relíquia da família Mendonça. Elias Neto guardava consigo o  lenço de Cacilda,  outra relíquia que carregava o peso e a glória da luta de seu avô, Manassés Mendonça. —Papai, tio... nós conseguimos — sussurrou Elias Neto, a voz embargada. —O vovô Manassés deve estar sorrindo lá em cima, com  Vô Rodolfo e Vó Cacilda.   Pedro, já  com os cabelos grisalhos, mas os olhos verdes ainda f...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 17- O último adeus - A despedida em paz e em liberdade.

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 Capítulo XVII: O Último Adeus - A Despedida em Paz e em Liberdade      Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro, Império do Brasil, Novembro de 1870. A brisa suave do mar acariciava a pequena casa onde Manassés Mendonça, aos 63 anos, jazia acamado, o corpo enfraquecido pelos anos de sofrimento que a liberdade não pôde apagar. As rugas profundas em seu rosto contavam a história de uma vida de dor, mas seus olhos verdes, mesmo apagados pela doença, ainda brilhavam com a serenidade de quem encontrara paz. A marca dos Almeida em suas costas, agora coberta por lençóis, era um lembrete silencioso de seu passado, mas não mais sua definição. Ele era Manassés, filho de Rodolfo e Cacilda, pai de Pedro e também de Lucas, tio de Elias Sobrinho, e o amor eterno de Antônio Albuquerque. Ao seu lado, Antônio, também com 63 anos, segurava sua mão, os olhos azuis inundados de lágrimas. O peso da idade e a certeza do fim iminente de Manassés apertavam seu coração. —Meu amor, sinto que ...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 16 - Uma nova vida, um novo nome.

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  Capítulo XVI: Uma Nova Vida, Um Novo Nome, O Renascimento como Manassés.  Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil, 1844. A viagem de volta à corte foi um marco de libertação para Elias Mendonça, agora um homem livre, acompanhado por Antônio Albuquerque, o amor de sua vida, o pequeno Miguel, o filho de Antônio e o seu novo filho, Lucas, o órfão adotado em São Paulo. A carruagem balançava suavemente pelas estradas, e Elias, com Lucas abraçado ao seu peito , estava segurando o rosário de Rodolfo e o lenço de Cacilda, olhava pela janela, o coração dividido entre a dor do passado e a esperança de um futuro feliz, ainda mais com um filho para educar e ver crescer. Antônio, com seus olhos azuis brilhando de ternura, segurava sua mão, um gesto que, embora discreto, selava a promessa de uma vida juntos. Em seus momentos de empolgação, Elias colocava a cabeça na janela da carruagem e gritava como se anunciasse para o mundo: "Eu sou LIVRE!", o que despertava o pequeno Lucas,...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 15- Rumo à nova vida.

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  Capítulo XV: Rumo à Nova Vida     Pelotas, Província do Rio Grande do Sul, Império do Brasil, 1840. A casa-grande da Fazenda Santo Inácio, outrora um símbolo de poder e opressão, agora tremia sob o peso da verdade revelada. Elias Mendonça, aos 37 anos, finalmente livre da corrente forjada que o nomeava Elias Villanova, encarava Ana Lúcia no salão principal, onde a luz do sol entrava pelas janelas como uma testemunha silenciosa. Seus olhos verdes, marcados por rugas e dores de 16 anos de escravidão e sofrimento, faiscavam com uma fúria que parecia incendiar o ar. Ao seu lado, Pedro, seu filho, ainda abalado pela revelação de sua paternidade, chorava em silêncio, o rosto enterrado nas mãos, enquanto Clara, com apenas 13 anos, olhava para a mãe com uma mistura de horror e desprezo. Antônio, com seus olhos azuis carregados de determinação, mantinha-se firme, o amor por Elias dando-lhe coragem para desafiar o mundo. A posse da Santo Inácio, que Ana Lúcia planejara co...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 14- A verdade que liberta, a catarse da liberdade.

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  Capítulo XIV:  A Verdade que Liberta - A Catarse da Liberdade    Pelotas, Província do Rio Grande do Sul, Império do Brasil, 1844. A manhã após o funeral de Dom Gregório amanheceu pesada na Fazenda Santo Inácio, como se o ar carregasse o peso de segredos finalmente expostos. A casa-grande, com suas paredes brancas e janelas imponentes, parecia sufocar sob a tensão que se formara na noite anterior, quando Elias Mendonça, outrora Elias Villanova, o escravo branco, gritara sua verdade ao mundo. A revelação de que ele era o pai de Pedro abalara a família Almeida de Albuquerque, e o silêncio da noite dera lugar a um confronto inevitável.    Elias, aos 37 anos, estava exausto, mas uma chama de determinação ardia em seus olhos verdes, agora emoldurados por rugas e fios grisalhos. Ele havia carregado o rosário de Rodolfo e o lenço de Cacilda como âncoras por quase duas décadas, mas naquela manhã, ao descer as escadas da casa-grande, sentia que o momento de...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 13- As verdades ditas na Fazenda Santo Inácio. A LIBERDADE, afinal.

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  Capítulo XIII: A Verdade Grita na Santo Inácio  Pelotas, Província do Rio Grande do Sul, Império do Brasil, 1844. A notícia da morte de Dom Gregório de Almeida, vítima de uma pneumonia implacável, ecoou como um trovão pela Fazenda Santo Inácio. Para Elias Mendonça, agora com 37 anos e marcado pelas cicatrizes físicas e emocionais de sua vida como “Elias Villanova, o escravo branco”, a perspectiva de retornar à fazenda, palco de suas maiores dores, era aterradora. A Santo Inácio evocava memórias do tronco, do ferro em brasa, das noites de violência com Ana Lúcia e da perda de sua identidade. Ele tremia na casa alugada na corte, o rosário de Rodolfo e o lenço de Cacilda apertados contra o peito, enquanto murmurava: “Pai... Mãe Cacilda... não me deixem voltar pro inferno...” Clara, aos 13 anos, com seus olhos azuis cheios de compaixão, correu para consolá-lo. “Elias, meu pai não vai permitir que mamãe te maltrate, e vovô está morto. Papai é teu dono agora. A tua alforri...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 12- Carlos, o arrependimento e a redenção na figura de Elias Sobrinho.

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  Capítulo XII: A Semente da Redenção em Pelotas     Pelotas, Província do Rio Grande do Sul, Império do Brasil, 1844. Enquanto Elias Mendonça enfrentava sua dolorosa jornada na corte imperial, a cidade de Pelotas, com suas ruas de paralelepípedos e o aroma de charqueadas, era o palco de uma tentativa de redenção. Carlos Mendonça, agora livre do vício da cachaça, vivia com Clementina, a ama alforriada da Fazenda Santo Inácio, numa casa modesta, mas acolhedora, onde criavam Elias Sobrinho, de 14 anos. Longe da decadente Fazenda Santa Bárbara, Carlos buscava construir uma vida que honrasse a memória do irmão sacrificado, Elias, e reparasse, ainda que simbolicamente, os erros do passado.  A Educação de Elias Sobrinho:                        Carlos e Clementina dedicavam-se a educar Elias Sobrinho com valores que contrastavam radicalmente com a arrogância e a crueldade da família Mendonça. Desde cedo, cont...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 11- O amor na Rua 20 de Abril e dor de não poder ser pai.

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  Capítulo XI: O Amor na rua  20 de Abril e a Dor da Verdade Negada     Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil, 1839-1844. As tardes na hospedaria da Rua 20 de Abril eram um refúgio sagrado para Antônio Albuquerque e Elias Mendonça, um oásis onde o peso da corte e da escravidão se dissipava, ainda que por algumas horas. O casarão, com seus quartos discretos e o murmúrio abafado de segredos, tornou-se o palco de um amor que desafiava as convenções do Império. Elias, aos 32 anos em 1839, apaixonava-se cada vez mais por Antônio, cujo toque gentil e olhos azuis melancólicos cristalizavam um amor que ele nunca imaginara possível. Para Antônio, Elias era mais do que um “escravo branco”; era o homem que, com sua beleza marcada pela dor e sua resiliência, conquistara seu coração.     Nessas tardes, entre lençóis amarrotados e o brilho suave da lamparina, Elias abria sua alma. Com lágrimas cortantes, relatava o horror de sua vida: a geração de Pedro, fr...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 10 - Rua 20 de Abril, onde o amor acontece.

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 Capítulo X:  Rua 20 de Abril - Onde o Amor acontece  Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil, 1837. A corte imperial, com sua efervescência de carruagens, salões e intrigas, era um universo de contrastes, onde a opulência dos fidalgos coexistia com a miséria dos escravizados. Na Rua 20 de Abril, um casarão discreto servia como hospedaria para rapazes solteiros, mas também como refúgio para os segredos da elite — encontros clandestinos entre fidalgos e moças pobres, ou mesmo rapazes escravizados, escondidos atrás de portas trancadas. Era ali que Antônio Albuquerque, com seus olhos azuis carregados de melancolia, encontrava um espaço para expressar o que a corte reprimira por anos.  Elias Mendonça, agora aos 30 anos, recuperava na capital os traços de beleza que a senzala da Fazenda Santo Inácio tentara apagar. Seus cabelos negros encaracolados, agora bem aparados, caíam sobre os ombros, e seus olhos verdes, embora marcados pela tristeza, brilhavam com uma...

Elias, das sombras da escravidão à luz da liberdade. Capítulo 9- O "cara de Estorvo".

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Capítulo IX:O "cara de Estorvo"  Capital do Império do Brasil, 1835. A cidade pulsava com vida, um mosaico de carruagens reluzentes, mercados barulhentos e a ostentação da elite imperial. As ruas de paralelepípedos ecoavam com o trotar dos cavalos e as vozes dos vendedores, enquanto o Palácio de São Cristóvão, residência de Dom Pedro II, lançava sua sombra sobre a corte. Para Elias Mendonça, agora Elias Villanova, o “escravo branco” da família Almeida, a corte era um mundo novo e intimidador, onde a opulência contrastava com sua condição humilhante. Oficialmente o “mordomo fiel” de Pedro, seu filho de seis anos, Elias vivia à sombra da família, um espectro silencioso carregando o peso de sua verdade oculta.         Pedro, matriculado numa prestigiosa escola para jovens fidalgos, aprendia latim, esgrima e etiqueta, moldando-se para ser o herdeiro dos Almeida. Ana Lúcia dividia seus dias entre cuidar de Clara, agora com quatro anos e tagarelando frases que...