Isaquias, o craque - Último Capítulo.

       Mauro, o cearense que cruzara o caminho de Isaquias numa madrugada nas areias de Ipanema, reapareceu em Fortaleza anos depois, como se o destino insistisse em entrelaçar suas histórias. Ele havia deixado o Rio, onde trabalhava como atendente de quiosque, e retornado ao Ceará em busca de novas oportunidades, trazendo consigo o mesmo sorriso aberto e o sotaque que lembrava o Crato. Quando soube que Isaquias, agora uma figura respeitada e patrocinador das categorias de base do Ferroviário, estava de volta à cidade, Mauro não hesitou em procurá-lo. O reencontro aconteceu numa tarde no campo do Ferroviário, onde Isaquias acompanhava um treino das meninas sub-15. Mauro apareceu de surpresa, vestindo uma camisa do clube e segurando uma garrafa d’água, como se o tempo não tivesse passado. Isaquias, ao vê-lo, sentiu o coração acelerar, uma mistura de nostalgia e curiosidade. — Tu por aqui, Mauro? — perguntou, com um sorriso tímido, enxugando o suor da testa. — Vim te ver, craque. Ouvi falar que tu tá fazendo milagre com esses meninos e meninas. Não podia perder — respondeu Mauro, com aquele brilho nos olhos que Isaquias nunca esquecera.
   Os dois conversaram por horas, sentados na arquibancada enquanto o sol se punha. Mauro contou sobre sua vida — os anos no Rio, a saudade do Ceará, o desejo de construir algo novo em Fortaleza. Isaquias, por sua vez, falou do Ferroviário, do Crato, e da paz que encontrara, mas também da solidão que escolhera, inspirado por Chris Dickerson. Ele não mencionou Reginaldo ou o trauma, mas Mauro, com sua sensibilidade, parecia entender os silêncios de Isaquias. Nos dias seguintes, Mauro passou a frequentar os treinos do Ferroviário, ajudando com pequenas tarefas — organizando equipamentos, levando água para as crianças, torcendo com entusiasmo. Sua presença trouxe uma leveza que Isaquias não sentia há muito. Eles começaram a sair juntos, tomando café na praça do Crato, caminhando pela orla de Iracema, relembrando aquela noite em Ipanema. Não era um romance, pelo menos não de imediato, mas uma amizade profunda, um laço que respeitava o espaço que Isaquias construíra para si.  — Tu mudou, Zaquias. Tá mais leve, mais... tu mesmo — disse Mauro certa noite, enquanto comiam tapioca num quiosque. Isaquias sorriu, olhando o mar. — Aprendi a viver comigo, Mauro. Mas ter tu por perto... ajuda.
    Mauro, agora parte da vida de Isaquias, tornou-se um apoio constante. Ele começou a trabalhar como auxiliar nas categorias de base do Ferroviário, a convite de Isaquias, e juntos eles transformavam o clube num espaço de esperança para jovens carentes. Para Isaquias, a presença de Mauro era um lembrete de que, mesmo tendo escolhido a solitude, ele não precisava estar sozinho. O menino de ferro do Crato, agora um vencedor em seus próprios termos, encontrava em Mauro não um amor passageiro, mas um companheiro para compartilhar a paz que tanto lutara para conquistar. Ter as bençãos de Sebastiana em um natal era o fecho de ouro neste ciclo de Isaquias, agora casado com Mauro.
   O casamento de Isaquias e Mauro acontecia nas areias da Praia de Iracema e dona Sebastiana estava lá, aceitando o filho e orgulhosa do ser humano que Isaquias se tornara. O "Craque Triste" tornava-se um homem feliz e realizado. 
Fim.


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