Manoel nunca soube o que era um lar. A vida, desde o princípio, lhe virou as costas. Aos oito anos, perdia seu pai, morto assim que saía para trabalhar, o que deixava apenas o vazio de uma ausência que ele mal podia compreender. Aos dez, a mãe o abandonou, fugindo com um homem desconhecido, levada por um destino que ele nunca entendeu, também sem dar carinho para o menino. Órfão na prática, caiu nas mãos da irmã, dez anos mais velha, uma figura que misturava autoridade e crueldade em doses brutais. Ela o espancava sem piedade, e seus amantes — uma procissão de homens sem rosto que cruzavam o casebre como sombras passageiras — faziam o mesmo. Manoel crescia entre gritos, golpes e o choro abafado de seus próprios medos. A casa era um caos de corpos e vozes, e entre os cinco filhos da irmã, ele jamais soube — nem quis saber — quem eram os pais.
Aos 16 anos, Manoel fugiu. Não suportava mais o peso daquele teto que rangia como se fosse desabar sobre sua alma. As ruas o receberam com um silêncio cortante, mas também com uma liberdade amarga. Ele trocou o inferno doméstico pelo desamparo das calçadas, onde a dignidade lhe escapava aos poucos, como água entre os dedos. Primeiro, perdeu a camisa, rasgada, fétida e inútil. Depois, os chinelos, gastos até virarem pó. Aos 25 anos, Manoel vagava pelas ruas de Ipanema, um espectro em um short gasto e desbotado, os olhos fundos carregando o peso de uma vida que nunca lhe deu trégua. Por vezes, chorava na imensidão solitária da praia vazia de madrugada, por outras ria da própria desgraça.
Manoel perambulava pelas ruas de Ipanema aos 25 anos, tendo como companhia fiel, apenas um gatinho sapeca, Biriba, que foi se aconchegando para ele todas as tardes e passava as noites, parecendo compreender a sua solidão ou talvez querendo dividir a dor, também. ele dormia em cima da barriga de Manoel, quando este conseguia os papelões para fazer o que dizia ser uma cama. Depois, veio um cão assustado mas protetor, Bituca, que ficava ao seu lado o tempo todo e dormia perto de sua cabeça, vigilante com os transeuntes que pudessem fazer maldades com o coitado do mendigo. Os três se protegiam, ou assim imaginava Manoel com sua "família" das ruas.
Perto deles, um objeto brilhante e misterioso, a garrafa onde repousava Assad: Um gênio outrora príncipe do reino de Argel. Enfeitiçado pelo vizir Bashara, Assad vive preso à uma garrafa mágica que lhe concedia apenas sete dias de liberdade após os quais retorna à sua masmorra puxado dolorosamente. Com a garrafa de Assad agora nas ruas de Ipanema, estas duas criaturas, sofredoras ao extremo em seus mundos de dores, se encontraram
.— Quem ousa me despertar? — a voz do estranho ecoou, grave, mas carregada de uma tristeza que Manoel reconheceu de imediato, porque era a mesma que ele carregava no peito.
Manoel, ainda segurando o papelão que usava como travesseiro, gaguejou:— Eu... eu sou Manoel. Só achei essa garrafa na areia, seu moço. Não queria incomodar ninguém.O estranho o encarou, e por um instante seus olhos suavizaram. Ele parecia ver Manoel, não apenas como um mendigo esfarrapado, mas como algo mais — talvez um reflexo de sua própria solidão.— Eu sou Assad — disse ele, a voz agora mais calma, mas ainda carregada de peso. — Outrora príncipe de Argel, agora um gênio preso a esta maldita garrafa, condenado por um vizir traiçoeiro. Sete dias de liberdade me são concedidos a cada chamado, e depois... — ele fez uma pausa, como se as palavras doesse — ...volto ao meu cárcere.
Manoel piscou, confuso. Ele não entendia nada de gênios, príncipes ou feitiços, mas conhecia a dor de estar preso, mesmo que sua prisão fosse feita de ruas e memórias, não de vidro. Ele olhou para Biriba, que agora se esfregava em sua perna, e para Bituca, que parara de latir, mas ainda observava Assad com cautela.— Então... tu tá preso aí dentro? — perguntou Manoel, apontando para a garrafa. — Como eu, que não tenho pra onde ir?Assad inclinou a cabeça, como se as palavras de Manoel o tivessem surpreendido. Ele olhou para o jovem à sua frente — magro, sujo, com uma sunga desbotada e dois animais como únicos companheiros — e viu, talvez pela primeira vez em séculos, alguém que entendia o que era carregar um vazio que não explica.— Talvez, Manoel — respondeu Assad, com um meio sorriso. — Talvez nossas prisões não sejam tão diferentes.Naquela noite, sob o céu estrelado de Ipanema, dois seres marcados pela dor e pelo abandono começaram a conversar. Manoel, com sua simplicidade crua, e Assad, com sua história de glórias perdidas, encontraram um no outro algo que nenhum dos dois esperava: um fio de esperança, tênue como a luz da garrafa, mas suficiente para iluminar a escuridão por um instante. Biriba e Bituca, fiéis, permaneceram ao lado de Manoel, como se soubessem que algo novo, algo mágico, estava apenas começando.
Assad, ainda envolto em sua aura de fumaça e luz, ouvia em silêncio enquanto Manoel, com a voz rouca e hesitante, despejava sua história. Ele falou do pai, cuja lembrança era uma sombra difusa de um homem que saía ao amanhecer e nunca voltou; da mãe, que partiu sem olhar para trás, levando consigo qualquer chance de afeto; da irmã cruel, dos golpes que marcaram sua pele e sua alma, e das ruas que o acolheram com sua liberdade fria. Manoel não chorava enquanto contava — as lágrimas haviam secado há muito —, mas seus olhos fundos carregavam um peso que Assad, mesmo preso por séculos, reconheceu como um tipo de cativeiro mais cruel que o seu. O gênio, tocado pela crueza daquele relato, sentiu uma pontada de compaixão. Ele, que já fora príncipe, conhecia a dor da perda, mas a história de Manoel era um abismo diferente, sem glórias passadas, apenas um presente de desamparo. Assad ergueu a mão, e a brisa noturna pareceu se curvar à sua vontade.— Manoel — disse ele, com uma suavidade que contrastava com sua figura imponente —, esta noite, darei a você um presente. Não um desejo, pois esses são limitados pelas regras da minha maldição, mas algo mais simples: um sonho onde a dor não te alcance.Manoel franziu o cenho, confuso. Ele não entendia de magias ou promessas, mas a voz de Assad tinha uma calma que o fez confiar. Sem dizer nada, ele se deitou sobre os papelões, com Biriba aninhado em seu peito e Bituca ao seu lado. Assad tocou a garrafa com a ponta dos dedos, murmurando palavras antigas que ecoavam como o vento do deserto. Uma luz suave, quase imperceptível, envolveu Manoel, e seus olhos se fecharam.No sonho, Manoel não estava mais nas ruas de Ipanema. Ele era pequeno novamente, com menos de oito anos, correndo por uma casa simples, mas quente, cheia de cheiros de pão assado e café. Seu pai estava lá, vivo, com um sorriso largo, voltando do trabalho com as mãos calejadas, mas gentis, bagunçando o cabelo de Manoel enquanto contava histórias do dia. Sua mãe, que na realidade nunca tivera um gesto de carinho, agora o abraçava, os olhos brilhando com um amor que Manoel nunca conhecera, mas que, no sonho, parecia tão real que aquecia seu peito. Eles riam juntos, uma família que nunca existiu, mas que, por aquelas horas, era tudo o que Manoel sempre quis.Ele dormia na areia, com Biriba ronronando baixo e Bituca ressonando ao seu lado, e um sorriso tímido, quase esquecido, desenhava-se em seu rosto. Pela primeira vez em anos, Manoel não sonhava com gritos, com fome ou com o peso da solidão. Ele sonhava com um lar, com rostos que o acolhiam, com um mundo que não lhe virava as costas. Assad, sentado ao lado da garrafa, observava em silêncio, os olhos carregados de uma melancolia antiga. Ele sabia que o sonho acabaria ao amanhecer, mas, por ora, deixou Manoel descansar na ilusão de um passado que nunca teve, protegido pela noite e pela companhia fiel de seus dois amigos de quatro patas.
O sol nascia sobre Ipanema, tingindo o céu de tons alaranjados, e Manoel acordou com o rosto úmido, as lágrimas escorrendo silenciosas. O sonho que Assad lhe dera ainda pulsava em seu peito, trazendo a imagem vívida do pai, com seu sorriso caloroso, e da mãe, que, mesmo sendo uma ilusão, o abraçara com um amor que ele nunca conhecera. Ele piscou, tentando segurar aquelas memórias que já se desfaziam como a espuma das ondas na praia. Ao seu lado, Biriba esfregava o focinho em seu braço, ronronando baixinho, enquanto Bituca lambia sua mão, os olhos castanhos cheios de uma lealdade que Manoel jamais encontrara em humanos.Ele acariciou os dois, sentindo o pelo áspero de Biriba e os ossos salientes de Bituca sob a pele. A fome e as ruas haviam roubado a vitalidade dos seus companheiros, mas os olhos deles brilhavam com um afeto que aquecia o coração de Manoel. Ele olhou para os dois e, com a voz embargada, murmurou:— Vocês dois... merecem mais que isso. Merecem um lar, uma comida de verdade, alguém que cuide de vocês direitinho.As palavras saíram quase como um desejo, carregadas de uma pureza que Manoel nem sabia que ainda carregava. Ele, que não tinha nada — nem camisa, nem dignidade, apenas um velho short desbotado —, sonhava com o bem dos seus "anjinhos", como ele os chamava.Assad, ainda preso à sua forma etérea, observava de longe, a poucos metros, invisível na brisa da manhã. O gênio, que conhecera reis, guerreiros e sábios em seus séculos de existência, sentiu os olhos arderem com lágrimas que ele pensava já ter esgotado. A alma de Manoel, tão castigada e ainda assim capaz de desejar o bem alheio, era algo que Assad nunca encontrara. Ele murmurou para si mesmo, quase incrédulo:— Eu pensava que não havia no mundo criatura mais sofrida e piedosa do que eu. Estava enganado.Movido por aquela bondade crua, Assad decidiu agir, mesmo sabendo que seus poderes eram limitados pela maldição da garrafa. Ele ergueu as mãos, e uma luz suave, quase imperceptível, envolveu Biriba e Bituca. O pelo do gato ganhou um brilho novo, as costelas de Bituca pareceram menos marcadas, e ambos ergueram a cabeça com uma energia que há muito não tinham. Manoel, sem entender o que acontecia, sorriu ao ver os dois tão vivos, tão belos.Naquele momento, um casal passava pela praça próxima à praia. Eram jovens, de mãos dadas, com olhos gentis que se voltaram para os dois animais. A mulher parou, encantada com Biriba, que miou e se esfregou em suas pernas. O homem se abaixou para acariciar Bituca, que abanou o rabo, confiante. Manoel observava, o coração apertado, mas com um brilho de esperança nos olhos.— Eles são seus? — perguntou a mulher, com um sorriso.Manoel hesitou, olhando para seus companheiros. Ele queria dizer que sim, que eram sua família, mas a verdade pesou mais.— São meus amigos... mas não têm dono. Só têm a mim, e eu não tenho nada pra dar pra eles.O casal trocou um olhar, como se entendesse algo que Manoel não precisava explicar. Após uma breve conversa, eles decidiram levar Biriba e Bituca. Prometeram cuidar bem, dar comida, um teto, carinho. Manoel ajudou a segurar os dois enquanto o casal improvisava uma guia para Bituca e uma caixa para Biriba. Quando chegou a hora de se despedir, Manoel se abaixou, beijou a cabeça de cada um e sussurrou:— Eles enfim conseguiram uma casa! Adeus, meus amiguinhos. As lágrimas voltaram, mas eram diferentes agora — uma mistura de tristeza e alívio. Ele ficou ali, vendo o casal se afastar com Biriba e Bituca, que olhavam para trás como se quisessem entender por que Manoel não ia junto. Quando sumiram na esquina, Manoel caiu de joelhos na areia, chorando com um sorriso torto. Ele estava sozinho outra vez, mas saber que seus companheiros teriam um lar o enchia de uma paz que ele não sentia há anos.Assad, ainda oculto, sentiu o coração partir-se mais uma vez. Ele, que fora príncipe, que conhecera riquezas e poderes, nunca vira tamanha generosidade em alguém que nada tinha. Manoel, com sua sunga desbotada e sua alma machucada, havia dado tudo o que lhe restava: o amor por seus amigos. O gênio, com lágrimas escorrendo por seu rosto etéreo, prometeu a si mesmo que, enquanto seus sete dias de liberdade durassem, faria o possível para trazer a Manoel um pouco da mesma esperança que ele dera aos seus "anjinhos".
A manhã seguinte amanheceu clara em Ipanema, com o sol refletindo na areia e o mar murmurando sua canção eterna. Manoel acordou sobre seus papelões, o corpo dolorido, mas o coração estranhamente leve. Assad, em sua sabedoria antiga, havia apagado a memória de Biriba e Bituca de sua mente, poupando-o da saudade que poderia esmagar o que restava de sua alma tão castigada. Ele se sentou, esfregando os olhos, e olhou ao redor. A praça estava viva, com o movimento habitual de transeuntes, mas seus olhos se fixaram em cinco meninos de rua, magros e sujos, remexendo latas de lixo em busca de algo para comer. Seus rostos, ainda jovens, carregavam o mesmo vazio que Manoel conhecia tão bem.— Eles não merecem descer até onde eu desci — murmurou Manoel, a voz quase um sussurro. — Não deveriam chegar onde eu estou agora. Que apareça alguém pra adotá-los, pra abrigá-los... Assad, oculto na brisa, ouviu o pedido com um aperto no peito. Ele, que já vira a ganância e a crueldade de reis e vizires, não compreendia como Manoel, reduzido a quase nada, ainda encontrava espaço em seu coração para pensar nos outros. “Ele pede pelos outros! Por Alá, como alguém neste estado pode ser assim?”, pensou o gênio, maravilhado e ferido pela pureza daquele homem.Sem hesitar, Assad moveu as forças invisíveis de sua magia. Minutos depois, um carro do serviço social estacionou na praça. Assistentes sociais desceram, conversaram com os meninos, avaliaram suas condições e, com promessas de um abrigo, estudos e um futuro digno, levaram os cinco para longe das ruas. Manoel observava, de pé, os olhos brilhando com um sorriso puro, como se o resgate daqueles meninos fosse sua própria salvação. Ele olhou para o céu, as mãos unidas, e sussurrou um “obrigado” que não era para ninguém em particular, mas que ecoou até Assad. O gênio, porém, sentia o peso de sua maldição. “Se ele não pedir por si, eu nada poderei fazer, e meu tempo de liberdade se esvairá”, pensou, sabendo que seus sete dias estavam se esgotando. Ele queria oferecer a Manoel algo para si, algo que aliviasse sua própria dor, mas Manoel parecia incapaz de desejar por ele mesmo.Naquele instante, um grito cortou o ar. Manoel virou-se e viu uma senhora idosa atravessando a rua, alheia ao carro que vinha em sua direção. O impacto foi rápido, e ela caiu, o corpo imóvel no asfalto. Manoel, com o coração disparado, correu até a calçada mais próxima, gritando:— Não... ela tem que estar bem! Meu Deus, ela não pode morrer!
Seu desespero era tão genuíno, tão desprovido de egoísmo, que Assad, mais uma vez, sentiu-se pequeno diante da grandeza de Manoel. Com um gesto sutil, o gênio envolveu a mulher em sua magia. A senhora, que momentos antes parecia à beira da morte, levantou-se, confusa, mas ilesa, como se nada tivesse acontecido. Os transeuntes, atônitos, murmuravam entre si, mas Manoel apenas sorriu, aliviado, sem questionar o milagre.Assad sabia que o último desejo de Manoel se aproximava, e com ele, o fim de sua liberdade temporária. Ele esperava, quase implorando em silêncio, que Manoel finalmente pedisse algo para si. Mas então, outro grito ecoou pela praça. Era Sheila, uma jovem moradora de rua que Manoel conhecia de vista, debatendo-se no chão, prestes a dar à luz. Não havia ninguém para ajudá-la, e a dor em seu rosto era um espelho da própria vida de Manoel. Ele caiu de joelhos ao lado dela, as mãos trêmulas, e implorou:— Por favor, que alguém venha! Que ela e o bebê fiquem bem!Assad, com o coração partido pela bondade incansável de Manoel, usou seu último desejo. Um carro do serviço social, como se chamado pelo destino, apareceu novamente. Paramédicos correram para socorrer Sheila, garantindo que ela e o bebê fossem levados a um hospital. Assistentes sociais prometeram cuidar dela e da criança, assegurando um futuro com abrigo e dignidade. Manoel, exausto, ficou de pé, observando a ambulância se afastar, um sorriso fraco nos lábios. Mas então, algo mudou. Manoel cambaleou, o corpo tremendo. Ele caiu na areia, convulsionando, os olhos arregalados enquanto a vida parecia escapar de seu corpo frágil. Os transeuntes passavam, indiferentes, como se ele fosse apenas mais um espectro das ruas. Assad, agora sem desejos para conceder, assistia, impotente, enquanto o homem que o ensinara o significado da bondade lutava seus últimos instantes. Em poucos minutos, Manoel ficou imóvel, sua curta e sofrida vida chegando ao fim. Assad permaneceu ao lado do corpo inerte, os olhos cheios de lágrimas. Ele esperava que a garrafa o puxasse de volta, como sempre fazia, mas algo estava diferente. A garrafa, talvez tocada pela bondade de Manoel, não o reclamava. E então, sob o céu de Ipanema, um milagre aconteceu. O corpo de Manoel começou a brilhar, uma luz suave e pura que se desprendia da carne e ascendia, como uma estrela subindo ao firmamento. Alá, ou talvez o próprio universo, apiedara-se daquele homem cuja vida fora uma sucessão de dores, mas cuja alma permanecera intocada pela amargura. Manoel, sem julgamento ou juízo final, transformava-se em luz, livre, enfim, de todo sofrimento. Assad, com o coração pesado, mas transformado, voltou à sua garrafa. Ele levava consigo uma lição que nenhum rei, nenhum vizir, nenhum século de cativeiro lhe ensinara: a verdadeira grandeza não está no poder ou na riqueza, mas na capacidade de amar e desejar o bem, mesmo quando nada se tem. Manoel, o mendigo de Ipanema, havia sido seu mestre, e sua luz, agora no céu, brilharia para sempre como um lembrete disso.
* Próximo capítulo: Os amiguinhos de Manoel se despedem olhando para o céu e contemplando a estrela em que ele se tornou.
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